Imigrante húngaro foi dono do primeiro cinema de Vilhena; ele morreu de diabetes e foi sepultado na cidade de Ji-Paraná

Jozsef Nemeth era um jovem de 26 anos que fugia dos horrores da II Guerra Mundial

  Aos 06 de dezembro de 1957 chegou ao Brasil o húngaro Jozsef Nemeth. Um jovem de 26 anos que fugia dos horrores da II Guerra Mundial. A Hungria sofreu com a ocupação soviética até 1991.

  Jozsef chegou de navio ao Rio de Janeiro e ali se estabeleceu por pouco tempo. Logo foi para São Paulo onde conheceu a alagoana Angelita e com ela teve dois filhos. Não demoraram e se mudaram para o Mato Grosso e, em seguida, para o Território Federal de Rondônia.

  “Ficamos acampados em um patrimônio chamado Padronal, no Mato Grosso, onde meu pai arrumou um trabalho em uma serraria”, conta Maria Denise, filha do imigrante. Conhecido como Gringo, o húngaro logo deixou Padronal e seguiu para Vilhena, sul de Rondônia. Chegou aqui em 1968, um ano antes da vila ser elevada a distrito [só torna-se-ia cidade em 1977]. Era um povoado com cerca de 300 habitantes e muita precariedade quando a família aqui se instalou.

  Mecânico de profissão, Gringo também foi o dono do primeiro cinema de Vilhena. Ele conseguiu emprego de mecânico no 5º BEC, ganhou dinheiro, comprou um terreno e montou sua oficina na avenida Major Amarante.

  Em um ponto na rua lateral ao banco Itaú (atual) Gringo instalou um cinema bem rústico, com filmes projetados em preto e branco. “Era rodado manualmente; os filmes vinham em bobinas”, relembra a filha,  contando do sucesso que eram as exibições dos filmes de Mazzaropi. Ele às vezes viajava para Ji-Paraná [então chamada Vila Rondônia] e lá também fazia exibições de cinema. Com o tempo, diz Denise, “veio outra pessoa com poder aquisitivo e tecnologia avançada para a época, e montou um cinema de verdade em Vilhena”, e a velha sala de projeções do Gringo acabou fechada.

  Jozsef Nemeth gostava

de jogar futebol e fez parte dos primeiros times de Vilhena, como jogador e técnico. Também curtia tomar “umas” com os amigos. Era muito alegre e cheio de memórias, um personagem popular na localidade. Uma de suas características era o boné de tecido no formato de “barquinho de papel” que ele costumava usar.

  Foi tratar de saúde em Ji-Paraná porque sua filha havia se casado e ido para aquela cidade. Com diabetes, acabou internado, morreu no Hospital Municipal, de parada cardiorrespiratória, aos 67 anos, às 19h do dia 06 de janeiro de 1999 — exatamente 42 anos e um mês após pisar pela primeira vez o solo brasileiro. Seu corpo foi sepultado lá em Jipa mesmo.

  A mãe de seus filhos, dona Angelita, continua viva e muito lúcida aos 94 anos. Sabe muitas histórias e tem boa memória acerca dos velhos tempos vividos na embrionária cidade de Vilhena de 54 anos atrás. Seu filho, José, já faleceu, em 1995. Denise hoje tem 55 anos, mora na avenida Beira Rio, região central de Vilhena, junto da mãe. Jozsef também deixou duas netas: Andressa e Isabelle.

Fonte: Folha do Sul
Autor: Júlio Olivar – Especial para a FOLHA