Brasil resgatou 918 vítimas de trabalho escravo em 2023, recorde para um 1º trimestre em 15 anos

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) resgatou 918 trabalhadores em condições semelhantes à de escravidão entre janeiro e 20 de março de 2023, uma alta de 124% em relação ao volume dos primeiros três meses de 2022.

O número é recorde para um 1º trimestre em 15 anos, sendo superado apenas pelo total de 2008, quando 1.456 pessoas foram resgatadas.

Os dados foram compilados a pedido do g1 pelo auditor fiscal Maurício Krepsky, chefe da Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo (Detrae), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

Goiás e Rio Grande do Sul foram os estados onde os auditores do Ministério encontraram o maior volume de trabalhadores em situação análoga à de escravidão.

Somente em Goiás, 365 pessoas foram resgatadas. Mais da metade foi resgatada no último dia 17 em lavouras e usinas de cana-de-açúcar nos municípios Itumbiara, Edéia e Cachoeira Dourada, no sul do estado, em uma operação do MTE que durou três dias.

Entre as irregularidades encontradas pela fiscalização, estão a cobrança de aluguel de barracos usados como alojamentos, o não fornecimento de alimentação e cobrança pelo uso de ferramentas de trabalho.

No Rio Grande do Sul, 293 pessoas foram resgatadas até o dia 20 de março.

 

Um dos casos mais emblemáticos ocorreu durante a safra da uva, em fevereiro, quando 207 trabalhadores foram encontrados em situações degradantes de trabalho em fazendas do município de Bento Gonçalves.

O caso chamou a atenção pelas agressões cometidas contra os trabalhadores, que afirmaram ter passado por espancamentos, choques elétricos, tiros de bala de borracha e ataques com spray de pimenta, além de jornadas exaustivas de trabalho.

Eles foram contratados pela empresa Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde LTDA, que prestava serviços a três grandes vinícolas da região: Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton.

 

O responsável pela Fênix, o empresário Pedro Augusto de Oliveira Santana, também está por trás de uma outra empresa que, em 2021, foi alvo de uma queixa pelo mesmo crime feita à Justiça do Trabalho.

Duas semanas depois deste caso na colheita da uva, uma outra operação do MTE conseguiu resgatar 82 pessoas em situação semelhante à escravidão em duas fazendas de arroz, no interior do município de Uruguaiana, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul.

Segundo apuração da fiscalização, os trabalhadores tinham que arcar com comida e ferramentas de trabalho. E, se algum deles adoecesse, teria a remuneração descontada. Um dos homens resgatados chegou a sofrer um acidente com um facão e ficou sem movimentos de dois dedos do pé.