Feminicídios dobram em Rondônia: 17 mulheres foram mortas entre janeiro e julho
Entre janeiro e julho de 2025, Rondônia registrou 17 feminicídios, o dobro em comparação ao mesmo período do ano passado. A capital, Porto Velho, lidera as estatísticas com seis ocorrências. Em seguida aparecem Presidente Médici e Ji-Paraná, com dois casos cada. Também houve registros em Mirante da Serra, Santa Luzia do Oeste, Vilhena, Buritis, Cujubim, Governador Jorge Teixeira e Itapuã do Oeste.
Cenário nacional
Esse quadro acompanha a realidade brasileira. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 1.492 mulheres foram assassinadas no país em 2024. A maioria era negra (63,6%), tinha entre 18 e 44 anos (71,1%) e foi morta dentro de casa (64,3%).
Os dados também revelam que 90% dos crimes foram cometidos por homens. Em 63% dos casos, o autor era o companheiro da vítima; em 21,2%, o ex-companheiro; e em 8,7%, algum familiar.
Outro ponto alarmante é que 121 mulheres mortas nos últimos dois anos estavam sob medida protetiva. Apenas em 2024, cerca de 100 mil medidas protetivas foram descumpridas no Brasil.
Histórias por trás dos números
Por trás das estatísticas, estão histórias de sobreviventes. Solange Boaventura, vítima de tentativa de feminicídio, relatou que a violência começou com empurrões até culminar em uma agressão grave, quando foi enforcada e deixada desacordada.
Outra mulher, que preferiu não se identificar, contou ter sofrido abusos sexuais na infância por parte do avô. “Eu tinha cinco anos e não entendia o que estava acontecendo. Ele me ameaçava e dizia para não contar para ninguém”, relatou.
Enfrentamento à violência
Diante do aumento dos casos, a Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Rondônia (OAB-RO) tem reforçado ações de combate à violência contra a mulher. Durante a campanha Agosto Lilás, foram realizados debates sobre políticas públicas, estruturação de juizados de violência doméstica e a aplicação do Artigo 14-A da Lei Maria da Penha, que fortalece a atuação do Judiciário na proteção das vítimas.
Entre as iniciativas, está a criação de uma ouvidoria para denúncias em bares e casas noturnas, além da atuação de uma comissão específica para combater a violência doméstica.
Para a conselheira da OAB-RO, Miriam Pereira Mateus, essas medidas são fundamentais:
“Nosso papel é garantir que as mulheres conheçam seus direitos e tenham a quem recorrer”.
Já a presidente da Comissão de Combate à Violência Doméstica da OAB-RO, Rosimar Francelino, reforça a importância da mobilização:
“Campanhas como o Agosto Lilás dão visibilidade ao tema, sensibilizam a sociedade e deixam claro que a violência contra a mulher é uma violação dos direitos humanos e não pode ser tolerada”.
Lei Maria da Penha e canais de denúncia
A Lei Maria da Penha garante direitos fundamentais às mulheres, como vida, segurança, saúde, moradia, educação, trabalho e dignidade. Para que esses direitos sejam respeitados, é necessário o fortalecimento das políticas públicas e a atuação da sociedade.
Em 2024, Rondônia registrou 3.922 ligações ao Ligue 180, um aumento de 80,65% em relação a 2023. O número de denúncias também cresceu: de 556 em 2023 para 606 em 2024. A maior parte das ocorrências aconteceu nas casas das próprias vítimas ou dos agressores.
A delegada regional da Polícia Civil, Solângela Guimarães, orienta que mulheres procurem ajuda logo nos primeiros sinais de ameaça:
“Existem casas de acolhimento e benefícios financeiros que podem ajudar a vítima a recomeçar sua vida e não voltar para o ciclo de violência pela dependência do infrator”.
Onde denunciar
Casos de violência contra a mulher podem ser denunciados de forma gratuita e sigilosa:
- Ligue 180 (24h em todo o país)
- Polícia Militar – 190
- Polícia Civil – 197
- Delegacia de Atendimento à Mulher – (69) 3216-8800
- Ministério Público de Rondônia – (69) 3216-3996 / WhatsApp (69) 98408-9931
- Defensoria Pública – (69) 99208-4629
- OAB-RO – (69) 3217-2112 / WhatsApp (69) 99954-9260
- Tribunal de Justiça de Rondônia – (69) 3309-7105 / WhatsApp (69) 8455-3277
G1