Navios de guerra: Brasil vê manobra de Trump como intimidação à América Latina
O governo brasileiro avalia que o envio de navios de guerra dos Estados Unidos para a costa da Venezuela tem a clara intenção de intimidar os países da América Latina que adotam uma linha de independência em relação às políticas do presidente Donald Trump.
Segundo fontes do governo, Trump quer dar um recado muito claro de que pode, se quiser, usar até mesmo a força para impedir que esses países adotem medidas que contrariem os interesses ideológicos ou econômicos de seu governo.
Na lista estariam Colômbia, México, Panamá e também o Brasil – que resiste às tentativas de interferência de Trump na política e na soberania do país. Todas essas nações têm contenciosos importantes com a administração trumpista e, com exceção do Panamá, são governadas por políticos de esquerda.
Embora lembrem que Trump é imprevisível, as fontes não acreditam, por enquanto, que a Casa Branca tenha planos de invadir a Venezuela ou realizar algum tipo de ação militar mais contundente contra o ditador Nicolás Maduro. A ideia dos americanos seria reafirmar, com demonstração de força – como navios de guerra e milhares de marines –, a proposta de manter as nações da região sob influência estratégica de Washington, em uma reedição do que foi a Doutrina Monroe, anunciada no século 19.
Um dos principais articuladores dessa estratégia é o secretário de Estado, Marco Rubio. Filho de imigrantes cubanos contrários à revolução liderada por Fidel Castro, Rubio é um dos políticos mais hostis a governos de esquerda na América Latina.
Tensões nas relações bilaterais
No caso da Colômbia, as tensões estão ligadas à questão da imigração e ao combate à produção de cocaína – exatamente o mesmo problema usado por Trump para tentar justificar o envio de contratorpedeiros às águas venezuelanas. Além disso, o presidente Gustavo Petro, um dos principais líderes de esquerda do continente, tem feito duras críticas ao governo norte-americano.
O Panamá, mesmo governado por um presidente de direita, entrou na mira da Casa Branca antes mesmo da posse de Trump. Washington observa com desconfiança a presença econômica da China em torno do Canal do Panamá e pressiona por maior alinhamento estratégico. Além disso, responsabiliza o país pelo intenso fluxo de migrantes na região do Darién, fronteira com a Colômbia, um dos principais corredores da rota para a América do Norte.
O México, por sua vez, tornou-se um dos principais focos de desgaste. A fronteira e a questão migratória estão no centro do discurso político de Trump desde o início de sua carreira. A pressão sobre o governo da esquerdista Claudia Sheinbaum aumentou recentemente por conta da crise do fentanil, considerada pelos EUA um grave problema de saúde pública.
Apesar da incapacidade de conter o consumo interno da droga, Washington acusa cartéis mexicanos de controlar sua produção e distribuição e o governo local de não combater o problema. Trump e Rubio chegaram a ameaçar ordenar ataques militares a locais associados aos narcotraficantes no país vizinho.
Segundo interlocutores próximos, todas essas medidas fazem parte de uma mesma estratégia da Casa Branca: deixar claro aos países vizinhos que os Estados Unidos não tolerarão políticas que afastem a região de sua órbita de influência.